Para você que não conhece, apresentamos o Anderson Pisanelli, um cara de 48 anos, nascido em Londrina-PR. Ele estudou dois anos de Direito e um ano de Arquitetura antes de entrar para o ramo da MODA. Depois se graduou em Artes Visuais e hoje é técnico em vestuário na Anhembi Morumbi, SP. Também fez Coaching em Design Estratégico com Polidesign de Milão e Pós-Graduação em: Fotografia e também Moda e Cultura. Atualmente é o Consultor Técnico do SENAI Londrina em Design com ênfase em Design Estratégico, atuante em projetos de inovação, e Coordenador Técnico Responsável no Paraná pelo Caderno InovaModa, Cetiqet.
MODAA: O que é o mais legal da moda em sua opinião?
ANDERSON: A apropriação de assuntos variados para desenvolvimento de coleções, pois cada hora a moda homenageia ou se inspira em uma referência, uma hora arte, noutra em personalidades diversas, noutra design, noutra uma determinada época ou com-portamento (tribos diversas), etc.
MODAA: Como funciona a indústria da moda? Como as tendências são criadas?
ANDERSON: A indústria da moda, funciona num caráter antropofágico, devora outros assuntos, novas tecnologias, novas funções de gestão, novos processos produtivos, gerando discussão, pois roupa é mídia (forma de comunicação/mensagem). Existem dois fenômenos que devemos entender: o trickle down, traduzido como gotejamento, ou seja, a moda antes vinha das classes ditas superiores (criada pelos designers) e posteriormente adotadas pelas castas inferiores, pela própria questão hierárquica do poder de consumo das diferentes classes. Mas com o passar do tempo estas mesmas classes inferiores passaram a se apoderar de tais códigos para gerar uma nova estética e que agora são adotadas de forma bubble up (explodem como bolhas), ou seja, foi criado dentro das novas tribos urbanas a expressão máxima da cultura pop, fenômeno do mundo contemporâneo, fazendo com que estes mesmos designers, que antes determinavam, agora busquem os códigos dessas tribos como referências no seu processo de criação e disseminação de novas ideias e conceitos de estética.
MODAA: Quais são os reflexos no nosso dia a dia?
ANDERSON: A Moda (enquanto vestuário), pois, a aparição da moda representa o momento em que o acúmulo de novos eventos acaba por promover a ruptura da série conhecida.
MODAA: Quais desfiles são primordiais para criar conceito no mundo inteiro?
ANDERSON: Quando pensamos em moda no Brasil, o que vem a mente é SPFW (São Paulo Fashion Week).
MODAA: Existem outros lugares fora eixo Rio-São Paulo que são tão importantes quanto?
ANDERSON: Sim, claro, o Fashion Rio, Dragão Fashion Brasil Fortaleza, o Minas Trend, o ID Fashion Paraná - super recente.
MODAA: Para as indústrias que estão começando, para se criar uma marca famosa, qual é a dica?
ANDERSON: Procurar por identidade própria (copiar certamente será o maior erro), autenticidade, estilo, inovação. A inovação trará a questão do novo, que será a mola propulsora. Sem o novo não há para que consumir, concordam?
Os outros três primeiros itens: identidade, autenticidade e estilo, basicamente estão todos interligados, pois em essência, falam a mesma coisa. Eu costumo comparar as marcas, de qualquer segmento inclusive com os meus amigos, ou seja: você prefere ter amigos com estilo e identidade próprios e que sejam autênticos ou prefere ter amigos que copiam você, seu jeito, suas atitudes? Acho que não, não é mesmo? Quem admiramos? Com quem desejamos estar? Com quem queremos aprender? Queremos estar com quem tem originalidade ou com quem não tem personalidade?
MODAA: Percebemos hoje em dia, muitas lojas de departamento ‘imitando’, ou melhor, se inspirando em grandes marcas e vendendo muito mais barato. A moda passou a ser pop. O que você acha disso?
ANDERSON: Pop é uma abreviação de POPular, portanto, estará sempre relacionado à cultura de massa. Quando a massa absorve uma ideia ou estilo, isso vai diretamente ao desgaste, como acontece com música, design, comida e blá-blá-blá. A cópia sempre irá existir em qualquer segmento, então esta questão é muito mais ampla, não tem como controlar. Seria desgastante e infrutífero, e o próprio consumidor já percebeu, embora seja lento o processo, que o comportamento sugere algo mais autêntico. Vivemos em um mundo de self style. Personal Trainner, Personal Stylist, Personal Friend, Personal Nutricionista... Vivemos na época da pluralidade de gostos e variabilidade de opções, ninguém quer o mesmo toque de celular, a mesma capa e fundo de tela. A personalização está chegando cada vez mais forte e isso vai refletir no consumo de roupas, acessórios, dietas, exercícios, religiões, estilos de vida... Já está acontecendo!
MODAA: Grandes marcas declararam que tem sido muito difícil ter criatividade para renovar constantemente suas coleções. Hoje chegam a 8 coleções/ano contra apenas 2 como era no passado. As pessoas querem cada vez mais e mais barato?
ANDERSON: Isso aumenta a ‘pirataria’ com lojas de departamentos copiando impiedosamente as grandes marcas. Mas a própria rede Fast Fashion já está se garantindo com coleções cápsulas, ou seja, menor quantidade de peças, mais variações de modelos e assinaturas de personalidades e designers famosos. A coleção não pode mais estar vinculada a sazonalidade e sim diluída compassadamente ao longo das estações como se fossem objetos mais refinados, embora sejam de produção as vezes duvidosa, estão chegando com algum tipo de conceito, acho que todos já temos percebido isso, não é?
MODAA: Em resumo?
ANDERSON: Sempre haverá de ter algum tipo de valor conceitual agregado por trás da moda. Reforçando a questão do posicionamento das peças: sem estilo, autenticidade e identidade nenhuma marca conseguirá se manter por muito tempo, pois sem relevância será impossível ser lembrada e levada á sério.
Anderson Pisanelli
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